Após um longo período de “reclusão”, ontem quis sair para dançar. A noite é um ambiente que te faz perder a fé no amor e nas pessoas. Hoje em dia, para mim, é um ambiente hostil, completamente desprovido de amor. Nesse período “reclusa”, aprendi muita coisa sobre mim e ao olhar com mais cuidado para a maneira como nos relacionamos, escutando nossos discursos com mais atenção, descobri muita escassez. Falta amor, falta cuidado, falta verdade, falta diálogo.
É triste que nossas grandes decepções venham justamente de nosso lado mais bonito que é essa capacidade e vontade de amarmos e sermos amados. Mas, entendi que estamos fazendo isso de maneira equivocada. Sim, cada um aceita o amor que acha que merece, portanto sei que não posso mudar isso no outro, mas tenho 100% de responsabilidade perante a maneira como escolho me relacionar, o que dou e o que aceito.
Os discursos são todos muito parecidos, as histórias também. Onde falta amor e cuidado para com si e para com o outro, sobra muita incoerência. Sobram também rótulos. As mulheres discursam sobre os homens e os homens sobre as mulheres. E entristece-me ver a quantidade de migalhas que damos e que aceitamos.
A verdade é que, todo mundo já foi descuidado com o coração do outro ou sofreu por causa do outro. E ao olhar para tantos corações partidos, e para o meu próprio coração que também já foi partido, me dei conta de que estava me fazendo as perguntas erradas. Se pensarmos bem dá para substituir o “por que ele/ela me fez sofrer?” por “por que coloco na mão do outro a responsabilidade de me fazer feliz?”. Não dá para achar que a felicidade é algo tão simples assim que possa vir de fora. Não dá para superestimar os relacionamentos e viver achando que a felicidade mora no outro.
Me parece um erro dizer “não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você”. Nós não temos controle sobre como o outro vai agir ou nos tratar, então não dá para agir sempre pautado pelo que o outro faria e viver esperando que o outro faça por você algo que só você mesmo pode fazer por você. Colocamos no outro uma responsabilidade que é tão somente nossa. A felicidade é uma escolha consciente que deve ser feita todos os dias. E se o outro faz algo que pode te fazer sofrer, você ainda tem escolha de como se sente em relação à isso.
Houve um tempo em que as escolhas eram muito limitadas ou quase nulas. A regra era casar e ter filhos. Hoje nos foi dado poder de escolha, é difícil falar nesse assunto sem parecer conservadora. Vejo que muitos papéis foram invertidos, que estamos confusos nessa busca, e principalmente que ter muita opção é quase igual a não ter escolha alguma. Então é preciso retomar alguns valores que foram perdidos. É preciso mais cuidado para consigo mesmo e para com o outro. Se engana quem acha que liberdade tem a ver com status de relacionamento. O que observo é o contrário, muita gente solteira que está atada, presa à rótulos e fragmentos, vivendo de migalhas.
A liberdade não tem a ver com estar solteiro ou não, mas sim com ficar bem sozinho e mesmo assim escolher alguém para estar ao seu lado, em entender que somos responsáveis por nossas escolhas e pela nossa própria felicidade, e nesse processo não dá para confundir estar solteiro com estar bem sozinho.
Para mim, não existe alegria em tratar pessoas como se fossem descartáveis, muito menos em se fazer descartável. Não tem nada de alegre em viver constantemente viciado na busca e não no encontro, não existe alegria em palavras rasas, sem olho no olho, sem propósito, em promessas vazias. Somos uma geração que vive de raspas e restos e confunde isso com liberdade, sem enxergar que a verdadeira liberdade está mesmo na escolha de sermos inteiros para nós, para o outro, para o mundo.